
O adolescente de 16 anos que confessou ter matado o próprio pai, o microempresário do ramo de borracharia Mauro Kiper Mioti, de 56 anos, com um tiro de espingarda calibre 12 na nuca, na residência da família, em Sant’Ana do Livramento, seguiu levando uma rotina para ele considerada normal enquanto gastava o dinheiro encontrado entre os pertences do seu genitor
Setembro intenso
A vida do adolescente seguiu normalmente e teria tido ainda mais normalidade, não fosse pelo fato do registro de desaparecimento do pai feito pela filha da vítima que reside na cidade de Palmitinho na região norte do RS. A jovem estranhou o silêncio do pai e comunicou o fato às autoridades no começo do mês de setembro sem saber que o mesmo já estaria sem vida em Sant´Ana do Livramento. A vida de gastos, passeios com os amigos, consumo de álcool e substância entorpecente não levantou suspeitas uma vez que a todos que questionavam pelo sumiço do pai, o adolescente apresentava diferentes versões, incluindo uma suposta ameaça que teria motivado a ida seu genitor para o Uruguai. Durante a Semana Farroupilha, em uma das apreensões realizadas pela Brigada Militar, o adolescente foi flagrado na posse de maconha. Levado para a DPPA e na sequência foi liberado. O jovem voltaria a mesma delegacia após uma briga generalizada na saída de um baile ainda durante a Semana Farroupilha em que um outro jovem amigo do suspeito teria sido ferido nas costas após ser atingido com golpes de faca.
Todos os fatos corroboram com o relato feito pelo delegado titular da DRACO que dão conta de que o adolescente estaria vivendo normalmente levando um rotina normal com participação ativa em festas e convívio com amigos.
Com base no depoimento prestado à autoridade policial na presença de um conselheiro tutelar, o adolescente A.B.M. confessou ter matado o próprio pai.
Segundo o relato do jovem, o crime ocorreu por volta das 6h30 do dia 5 de setembro. Na ocasião, ele e o pai estavam em um quarto dentro da borracharia da família. O adolescente contou que estava deitado na parte superior de uma beliche, enquanto o pai estava na parte inferior.
O jovem narrou que, no momento em que a vítima se sentou na cama para calçar os sapatos, ele encostou o cano de uma espingarda calibre 12 na cabeça do pai e efetuou um disparo à queima-roupa. A arma, segundo o adolescente, havia sido adquirida por ele no dia anterior ao crime.
A.B.M. detalhou que, após ser atingido, seu pai ainda conseguiu se levantar antes de cair ao lado da cama, derrubando alguns objetos que ficaram sujos de sangue. O adolescente afirmou ter se desfeito desses itens em um acesso próximo à chamada santinha do Planalto, onde somente é possível acessar de carro.
Após o crime, o jovem disse que saiu de casa “muito nervoso” e foi até a residência de um amigo, M.E.P.A., a quem contou o que havia acontecido. Em seguida, os dois saíram juntos no carro da vítima.
No fim do dia, o adolescente contou com a ajuda de dois amigos, P.R.F.A.F e M.E.P.A., ambos maiores de idade, para ocultar o corpo do pai em uma área rural do município. Para isso, ele teria pago a um dos suspeitos com uma tatuagem de R$ 350,00 e ao outro com dois pneus da borracharia do pai. Os dois homens foram presos em flagrante pela Polícia Civil e irão responder por ocultação de cadáver.
O caso foi descoberto após a Brigada Militar receber a informação de que a borracharia da vítima continuava em funcionamento, mesmo com o seu desaparecimento. No local, os policiais encontraram o filho, que, inicialmente, negou o crime, mas acabou confessando após ser confrontado com as evidências.

Segundo o delegado Adriano de Linhares, as investigações continuam para apurar a participação de outras pessoas no crime e se os dois homens presos por ocultação de cadáver também tiveram envolvimento no planejamento do assassinato. O adolescente foi encaminhado ao Ministério Público e poderá responder por ato infracional análogo a latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver.
Em coletiva de imprensa, o delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), Adriano de Linhares, informou que o adolescente confessou a autoria do crime, dando detalhes de como o fato ocorreu, e apontou a motivação patrimonial, já que ele queria assumir os negócios da família. O jovem alegou ainda que o pai o agredia e que sofria abusos. O delegado, no entanto, disse que a justificativa “não condiz com a realidade” e que, após o crime, o adolescente “seguiu a vida normal, de festas e viagens”.